quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A Pedalada

Cele o quê?

por Marcus Aurelius Pimenta

Se você acha bicicleta uma palavra difícil de pronunciar é porque não viveu no século XIX e nem conheceu o barão de Civrac.

Ele foi o criador de um veículo que pode ser considerado o bisavô das atuais magrelas. Sendo mais preciso, tratava-se de uma estrutura de madeira ligada a duas rodas e impulsionada, lógico, pelos pés. Podia ser estranho, mas funcionava.

O nome dado a essa engenhoca soa um pouco esquisito para os nossos ouvidos: celerífero. Achou complicado? Bem, se isso facilita ele também a chamava de velocífero.

O invento foi, aos poucos, sofrendo modificações. O barão Von Drais incorporou ao modelo um sistema de direção. Isso melhorou bastante as coisas para os proto-ciclistas. Para você ter uma idéia do desempenho, esse modelo - chamado La Draysienne - atingia a velocidade de quinze quilômetros por hora.

A coisa foi progredindo e chegamos em 1855, quando se criou, finalmente, um sistema de pedais parecido com o de hoje em dia. Aí se começou a pensar na produção em escala industrial.

Devemos isso a Pierre Michaud, que, curiosamente, não era barão.

Foi ele o criador daqueles famosos modelos em que a roda da frente, onde ficavam os pedais, era bem maior que a traseira. Pierre Michaud foi também o dono da primeira fábrica de bicicletas do mundo: a Biciclos Michaud. Seus modelos eram chamados michaudines - pronuncia-se michodines. Como se vê, gosto para nomes não era o forte dos pais da bicicleta.

Daí para as primeiras competições foi um pulo, ou melhor, uma pedalada: a primeira prova de que se tem notícia, realizada no crcuito Toulouse-Craman-Toulouse, aconteceu em 1869. A partir dessa seguiram-se tantas outras que foi preciso criar associações internacionais para pôr ordem e critério nas disputas. Se você é um fã das bikes, certamente já ouviu falar das voltas da França e da Espanha, duas das mais famosas competições dos nossos dias.

O então recém-criado cinema também não deixou de registrar o grande interesse que se formava em torno das bicicletas. Em 1905, dez anos após as pioneiras exibições dos irmãos Lumiére, André Henzé produziu "O Ladrão de Bicicleta", primeiro filme a ter uma magrela como tema.

Bicicletas só foram aparecer no Brasil no finzinho do século XIX. Um dos primeiros conterrânaeos a dirigir um biciclo foi o jovem paulistano Fortunato de Camargo. Ele gostava de passear na rua da Consolação porque ela era toda de terra batida e quase não tinha trânsito. Bons tempos.

Um italiano, chamado José Noschese, montou na praça da República uma casa de aluguel de bicicletas chamada Circo de Velocípedes. O custo era alto, mas os jovens paulistanos pagavam qualquer preço parasatisfazer o desejo de experimentar a novidade. Alguma semelhança com os jovens de hoje em dia?

O ciclismo esportivo também chegou por essa época e logo se tornou uma mania daqueles tempos. O primeiro circuito do país foi o Velódromo Paulistano, que ficava na rua Dona Veridiana, bairro de Vila Buarque. Inicialmente ele era feito de terra, mas o asfalto não demorou: foi aplicado apenas um ano após sua inauguração, em 1895.

Na área central do Velódromo armou-se um dos primeiros campos de futebol da cidade. Ali se disputavam as partidas - ou matches, como se dizia então - entre Corinthians, Palestra Itália (o Palmeiras de hoje) e Paulistano, os grandes esquadrões da época.

Com o tempo a bicicleta passou a ser uma elemento inseparável do cenário de todas as cidades brasileiras, consagrando-se como o meio de transporte preferido da massa trabalhadora. Toda pessoa que foi jovem entre os anos quarenta e cinquenta tem pelo menos uma história a contar relacionada a bicicletas.

Nessa época um fato marcante: Claudio Rosa e Anésio Argeton fizeram bonito representando o Brasil em competições de ciclismo internacional. Esse foi também o período áureo das marcas Caloi e Monark, senhoras absolutas do mercado nacional por muitos anos.

Hoje o esporte se diversificou e há várias modalidades praticadas em todo o mundo, como o mountain-bike e suas divisões como o downhill, o freeride e o cross-country.

A prática do ciclismo, desde que feita com cautela e responsabilidade, só faz bem à saúde. Além de ajudar a perder peso - um ciclista queima dez quilocalorias a cada quilômetro percorrido -, ela melhora o desempenho respiratório e o bom humor, três ótimas razões para deixar de lado o carro que induz ao sedentarismo, ocupa espaço e polui o ar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário